Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

A Prrrrrraça de Setúbal

(aqui vai então, com parte do artigo...)

A vida na praça de Setúbal é muito cheia, muito rica. Setúbal está plantada na foz do rio Sado, e tem uma vida piscatória ainda muito intesa: acorda bem cedo com o chegar dos pescadores, o “amanhar” do peixe e a venda ao público na praça.

Por isso resolvi ir à praça ver o fervilhar de peixes, queijos e legumes secos e frescos, coloridos e sumarentos; o corropio de gente que acorre às bancadas em busca de uma boa posta de espadarte ou de enguias fesquinhas. Vemos vendedores ambulantes – “Ó Menina, olhe este quêjo tã bom” enquanto desdobra o pano que tapa os queijinhos de cabra que carrega no seu cesto.



Mas a alma da prrrraça está nos seus vendedores! Encontrei vários tipos de vendedores, uns novos e divertidos, outros mais adultos e não menos bem-dispostos, outras senhoras de mais idade que há muitos anos caminham para estas bancadas, como a D. Cristina, a quem comprei malaguetas, ramos de oregãos, batata doce e folhas de louro -  “Esta banca era da minha mãe, que para aqui caminha há 55 anos. Mas agora está velhinha, tem 84 anos, e pede-me muito para vir aqui! Já venho há 3 anos, mas ela só deixou de vir há um.


Numa esquina do corredor das frutas encontrei um vendedor que anotava as contas dos clientes na parede de azulejo da sua banca! Nunca tinha visto! Com a balança encostada a esta parede, com um marcador (daqueles que usamos nos quadros brancos das escolas) em punho, rapidamente anotava em cada azulejo o preço do ananás, da anona e da manga, e com um sinal de somar e um traço de igualdade fazia as contas à vista de todos. No fim, bastava passar com um pano de feltro para as apagar.


Fiquei fascinada com a variedade (e frescura!) dos peixes! Gosto muito de mercados, tenho visitado bastantes, e são sempre um ponto de paragem nas minhas andanças. Tenho visto cores e cheiros fascinantes, principalmente nos frutos e legumes que encontro nos países mais tropicais, mas em nenhum outro mercado vi uma variedade tão grande de peixe, e a desaparecer tão depressa! Entre o início e o fim de um desenho desapareciam metade dos meus modelos (leia-se peixes), passavam por mim rapazes com sacos cheios de linguados e canastas cheias de robalos, e ouvi das outras bancadas: “Ó senhôrrrra, desênhe aqui o mê pêxe!”



6 comentários:

Mário Linhares disse...

Sim, acho que seria mais interessante.
Ou pelo menos um resumo...

Isabel disse...

concordo com o Mário, um resumo deve chegar

B.Braddell disse...

gosto muito...em especial o segundo de quem ve de cima para baixo...

Mário Linhares disse...

Excelente reportagem!
Pessoal e com bastante informação.

Obrigado!
:)

Isabel disse...

concordo com o Mário, bela reportagem e desenhos , um retrato de um dos vendedores teria sido bom.

Luís Ançã disse...

Tem mesmo o ambiente das praças. Muito bem, Constança.