Nunca encontrei ninguém completamente incapaz de aprender a desenhar.

John Ruskin, intelectual inglês do século XIX


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terça-feira, 22 de setembro de 2009

AS MACARONÉSICAS – vol. I

Exocoetus volitans, apanhado a bordo do NRP Zaire

30º'N 15ºW. Bem vindos ao extremo sul de Portugal, e talvez o único local do país onde não se ouve a buzina da Family Frost.

Sete graus a norte do trópico de Cancer fica o arquipélago das Selvagens, duas mãos cheias de ilhas e ilhéus cobiçados por Espanha, que são Reserva Natural desde 1971. Também aqui se situa o marco de correio mas meridional de Portugal, que além da inegável bizarria de ver tal coisa numa ilha onde ninguém vive, se reveste de simbolismo de soberania nacional numa terra mais perto de Tenerife do que da Madeira.

Calonectris diomedea borealis - Selvagem Grande

Que conste Corto Maltese nunca fundeou por estas paragens. O mesmo não pode ser dito do infame Capitão Kidd, que reza a lenda terá deixado parte do seu tesouro numa gruta na metade leste da ilha. Mas a maior riqueza da ilha não está um hipotético espólio rapinado nas Américas, mas sim no seu património natural. Aqui, para além dos milhares de Cagarras que constituem a maior colónia mundial desta espécie com cerca de 15.000 casais e suas bonitas cacofonias de fim-de-dia, encontram-se também a maior colónia Europeia de Calcamares, bem como Pintaínhos, Almas-negras, Roquinhos e Corre-caminhos. Junte-se lhes um punhado de Gaivotas-de-patas-amarelas, e temos completo o ramalhete de aves nidificantes. Depois há as Osgas-das-Selvagens, encontradas unicamente na Selvagem Grande, Selvagem Pequena e Ilhéu de Fora, uma sub-espécie de Lagartixa-da-Madeira, particularmente numerosa no alpendre quando as refeições são servidas, entre muitos outros endemismos zoológicos e botânicos.

Crânios de C.diomedea borealis e Bulweria bulwerii; B.bulwerii, cabeça e cauda

Tive a felicidade de calcorrear as Selvagens, como voluntário de um projecto de investigação, durante três semanas em Agosto. Por entre o trabalho com as Cagarras, sempre se riscou alguma coisa.


Ficha técnica
data: 03-27/08/2009
material: Moleskine Sketchbook Aguarela 14x9; lapiseira 0.5 de grafite e mina azul; aguarela
banda sonora: som ambiente (Cagarras)

11 comentários:

Cate disse...

Fabuloso! Tanto os desenhos como o texto...
E ainda se aprendem umas coisas!
Pode se combinar uma saída de campo nas Selvagens?

José Louro disse...

caro pef. Excelente. Apurado traço.

Erica disse...

Bem bom, já fiquei com saudades das cantarolices das cagarras.

PeF disse...

Cate: Obrigado. Por acaso era uma coisa gira, o problema maio se calhar é convencer a Marinha a meter um grupo num navio patrulha - e respectiva viagem de 12 horas para cada lado;

josé louro: Obrigado. A ver se ponho aqui outras coisas também das Selvagens em que o traço já não está tão apurado - desenhos nocturnos só à luz do frontal entre outros;

Erica: são de facto espectaculares. E bem, bem mais numerosas que nas Berlengas. Há também a particularidade de nas Selvagens as aves começarem a vir a terra a meio da tarde, o que dava direito a fins-de-tarde espectaculares no Planalto com aves a passarem às dezenas a dois metros de distância.

Monica Cid disse...

Que primor!!! Estou como a Cate - nos desenhos e palavras!!
Apetece ver estes desenhos ainda mais de perto! Tenho vontade de ir um dia com vocês desenhar bicharada!!! :)
beijinhos ****

Mário Linhares disse...

Podia dizer: palavras para quê? Mas há que dar-lhes uso e aplicá-las a quem as merece.

Bolas, grandas desenhos!
(desculpem mas foi o melhor que me saiu)


Confesso que estava na esperança de te encontrar a desenhar numa esquina qualquer no domingo passado...
Fica para uma próxima.

Fuzhong! disse...

Muito bom!

Queremos ver mais!

PeF disse...

Monica Cid: Muito obrigado. Combinamos um dia destes, por acaso um dia destes andava em passeata desenhadeira e passei pelas tuas bandas - mas como telemóvel é coisa que ainda não repus, nem deu para ver se andavas por lá;

Mário Linhares: Estive até à última hora entre o trabalho e a saída, a saída e o trabalho, e acabei por apostar no trabalho com muita pena minha. Vai ter de ficar para a próxima sim. E obrigado.

Fuzhong!: Obrigado. Quanto a mais desenhos - brevemente, ou quando eu conseguir alinhar cérebro, scanner e relógio. Sempre tinhas a patinha contigo?

Fuzhong! disse...

Ficamos então a aguardar.

Não encontro patinha nenhuma... :(

Já agora, se alguém encontrar uma pata meio ressequida de calca-mar, avise-me!

Ana Oliveira disse...

Adoro os acompanhamentos sonoros dos teus posts!

PeF disse...

Ana Oliveira: E que som ambiente este! Havias de as ouvir quando saíam para o mar às 5 da manhã. Ora às 5 da manhã quem estava a tentar dormir, quem era..?